Edimburgo, Escócia - Um furioso gigante foge para a floresta em meio a pedras e troncos de árvore, lança-se em abismos de lama e misteriosamente submerge na água gelada. Estamos na Escócia, mas não falamos do Monstro do Lago Ness e, sim, do Discovery 4. Ao contrário da mítica criatura aquática, o novo Land Rover existe. E faz tudo isso e muito mais.
O primeiro contato com o jipão - que chega ao Brasil no fim deste ano - não é dos mais amistosos: o volante do lado direito parece sorrir ironicamente, desafiando para uma volta em mão inglesa. Antes de pôr o pé na estrada, damos uma boa olhada no interior do automóvel. Os bancos dianteiros e o volante têm ajustes elétricos, os detalhes de madeira são de primeira e as forrações de couro bege impressionam - difícil até para os mais detalhistas encontrar uma costura fora do lugar. Coisa fina.
O número de botões diminuiu sensivelmente sem, no entanto, que o modelo seja mais simples que o antigo -muito pelo contrário. E é exatamente isso o que estamos prestes a descobrir. Falta, agora, apenas ligar o GPS que nos conduziria com perfeição: a cada trecho mais complicado, uma simpática portuguesa nos ensinaria o caminho. Vamos chamá-la de Luisa, em homenagem à mãe deste que vos escreve.
SUSPENSÃO FIRME E CONFORTÁVEL - Nossa jornada de 195 km por terras escocesas começa assim, numa mistura de curiosidade e receio de guiar pelo “lado errado” da pista. Saímos em direção ao interior do país, por estradinhas de mão dupla bem asfaltadas e estreitas, onde mal cabem dois carros. Melhor, então, maneirar na condução. A eficiência do silencioso V8 5.0 e a suspensão (tão firme quanto confortável), porém, pedem uma tocada mais agressiva. Hesitamos, mas nos rendemos ao apelo da máquina.
A direção leve tem relações variáveis: quanto mais rápido o Discovery 4 vai, mais firme o volante fica. O controle de estabilidade também não faz por menos e, como um anjo da guarda, entra em ação ao menor sinal de perigo. Por via das dúvidas, os freios foram aperfeiçoados.
Curva após curva, vamos cortando o tapete negro, até que nos deparamos com uma picape no sentido contrário. A única alternativa é desviar para a esquerda, onde encontramos uma valeta. No mesmo instante, o controle de estabilidade corrige a direção do bicho, mantendo-o no prumo. Um carro qualquer não faria o mesmo, e seguimos adiante com uma certeza: provocar um acidente sério a bordo deste jipão é para mestres na arte de fazer besteira.
Quilômetros depois e mais confiantes, ouvimos a ordem de Luisa: “Em 500 metros, vire à esquerda”. Mas ali não há asfalto, só terra e água! A diversão vai começar para valer. A quantidade de lama e o precipício que nos levaria até ela são intimidadores. Está na hora de acionar a reduzida, que seguraria o Discovery 4 até lá embaixo com apenas três rodas no chão e uma no ar. Diferentemente do que acontece em 4×4 de outras marcas, não é necessário fazer mais nada: um sistema controla o freio e o acelerador, cabendo ao motorista a angustiante tarefa de esperar. A força é absurda, e logo mergulhamos na água suja até o capô.
Há cinco configurações eletrônicas para diferentes pisos: asfalto; grama e neve; areia; rochas; e lama. É esta que escolhemos, avançando num cenário típico do “Jurassic Park”. A suspensão pneumática dá uma forcinha, subindo e descendo de acordo com o terreno.
CORRENTEZA, PARA ELE, É POÇA - Entre o nada e o lugar algum, Luisa se cala. Ela nos deixou nesta situação, o jipão haveria de nos tirar… Em poucos minutos, estamos diante de um rio com 20 m de largura, e o bichão encara a parada como se a correnteza não passasse de uma poça. Mais à frente, uma ponte estreita nos separa da volta ao asfalto. É para situações assim - e manobras urbanas - que existem quatro câmeras que enviam à tela do painel as imagens externas.
Perguntamo-nos quantas pessoas farão metade disso com seu Discovery. As mudanças visuais podem, erroneamente, reforçar a forma como muitos motoristas veem os 4×4. Neste caso, os plásticos foscos que atribuíam rusticidade à terceira geração (2005-2009) deram lugar a mais tinta e linhas menos abrutalhadas.
Porém não se engane: trata-se de um jipe que pode levar sete pessoas e esbanja conforto no asfalto, mas que nasceu para aventuras longe dele. Usá-lo para ir ao shopping e buscar crianças na escola é criar o Monstro do Lago Ness num aquário.
FICHA TÉCNICA:
Preço: Não decidido
Origem: Inglaterra
Motor (opção 1): A diesel, V6, 24v, biturbo, 2.993 cm³, potência de 248 cv(a 4.000rpm) e torque de 61,2kgfm (a 2.000rpm)
Motor (opção 2): A gasolina, V8, 5.000cm³, 32v, potência de 380cv (a 6.500rpm)e torque de 51,8kgfm(a 3.500rpm)
Transmissão: Integral com diferencial central. Câmbio automático de seis marchas
Suspensão: Independente, com molas pneumáticas
Pneus: 285/55 R19
Dimensões: 4,83m (comp.); 2,89m (entre-eixos); 2.583kg
Desempenho: 0-100km/h: 9,6km/l; máx.: 180km/h (diesel)
Consumo médio: 10,5km/l (diesel)
*O repórter viajou a convite da Land Rover
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